Quando a gente nasce, vem com um paladar que vai sendo construído aos poucos.
Observei o paladar dos meus sobrinhos ser construído lentamente, e por pais que sempre comeram de tudo, portanto, sempre foram estimulados a experimentar de tudo!
O Yuri veio primeiro, nasceu em 2000, ainda no século passado, mas não por isso atrasado. Minha irmã, sempre muito esperta, aprendeu a negociar a fruta com o doce, a salada com o suco, segurou o refrigerante por muito tempo, e nunca deu muita bola pra birra, e sempre levou ele junto na feira junto com ela, para ele ajudar a escolher o que ia ter na mesa durante a semana. Desde cedo ele sempre gostou muito de brócolis, de couve-flor, claro, que ele já ranhetou muito, especialmente com coisas novas, ele prefere o que ele já conhece ao novo, não gosta muito de experimentar, especialmente com doces, ele não gosta muito de fugir do chocolate, do pudim de leite, nem do doce de leite. Uma vez, na praia, muito pequeno, fui comprar sorvete pra ele, e não tinha de chocolate, comprei o de açaí sem medo, ele nem reparou, era quase da mesma cor! Acho que o ritual do sorvete na praia era mais importante do que o sabor do sorvete!
Já a Clara, mulher, mais moderna e já desse século, nasceu em 2002, sempre teve um espírito mais desbravador. Já sentada no colo da mãe dela, agarrava a xícara de café espresso, sem açúcar, e tomava, chupava limão, caçava ervas no quintal da bisa e comia sem medo de ser feliz. Um dia, entrando no supermercado comigo, por volta de uns 4 anos de idade falou: - Tia Fê, compra uma coisa pra mim? - Eu esperei que o pedido fosse por bala, chocolate, ou algo do gênero, mas o pedido prosseguiu assim - Você compra coraçãozinho de frango? - Claro que eu comprei! Outra vez, na cozinha, enquanto nós duas estávamos preparando um jantar criado por ela, ela desfolhava o manjericão, duas folhas ela colocava na pilha, uma ela comia, alho cru também, enquanto picava comia, ela nunca teve medo de experimentar esses sabores fortes. Com a idade algumas coisas vieram, o açúcar no café, a teima em experimentar coisas novas, dizer que não gosta mesmo sem nunca ter comido, mesmo assim ela continua gostando mais de chocolate amargo do que de chocolate ao leite, e adora pimenta. Um paladar muito interessante para uma garota de 9 anos não?
Agora... voltando ao título do post. Hoje eu estava me lembrando das primeiras vezes que eu tomei cerveja na vida. Não... eu não gostava de cerveja, e tenho bastante certeza de que meus amigos, que tomavam bastante cerveja na praia e no bar, também não gostavam de cerveja, com o tempo a gente foi se habituando a gostar, e hoje em dia somos muito exigentes, não aceitamos qualquer cerveja. Se foi assim com a cerveja, porque não podemos fazer assim com o chuchu? Porque não fazemos assim com o coitado e mal falado jiló?
Tenho minhas birras também, claro... repolho cru é uma das minhas birras, não consigo, acho ruim, só como se não tem outra maneira, e eu não posso recusar... eu cubro de azeite, mas, como uma boa neta de alemão adoro chucrute, especialmente dentro do cachorro quente! Tenho paixão por acidez, pepino em conserva, azeitona, carambola verde, limão, vinagre... assim vai.
Pense no seguinte, qual alimento que você não gosta? Ou melhor... quais? De repente, é só uma questão de hábito, afinal de contas, você se habituou a tomar cerveja não?
Vou te fazer uma proposta, faça um teste, tente ir se habituando a ele... lentamente... Não adianta colocar na boca e engolir rapidamente, tem que saborear, perceber o que você gosta e o que você não gosta nele.
Pegue um alimento que você gosta, coloque na boca, e tente perceber quais são todas as qualidades dele que você gosta, textura, sabor, acidez, doçura... Entenda porquê você gosta dele!
Depois pegue um alimento que você não gosta, não comece pelo mais odiado, pegue um que você acha tolerável, e faça a mesma análise, e entenda o porquê você não gosta dele! Ou melhor... de repente, você percebe... que não tem razão nenhuma para você não gostar dele, é só pura falta de hábito! Pronto! Você é uma nova pessoa! Pronta para adquirir um novo hábito!
Se você leu este post e pensou em alguma coisa que você não gosta imediatamente, eu agradeceria imensamente que você escrevesse nos comentários o nome do alimento que você não gosta!
(Pode ser anônimo!)
(Pode ser anônimo!)